Sem cortinas

Janela de hotel é uma coisa engraçada. Se a paisagem é bonita e o dia está bacana, não tem lugar melhor pra pousar os olhos. Às vezes, você acaba indo parar num lugar meio longe de tudo, a paisagem beira o inóspito e o clima remete às cenas de inverno das séries finlandesas. Mesmo assim, será sempre uma janela de hotel, com todas as suas possibilidades, dicas e tentações.

Por mais conhecida que seja a cidade, estar de passagem por ela é sempre instigante. As janelas se abrem para possíveis surpresas mas, convenhamos, não é sempre que acordamos com disposição para o inesperado. Havendo possibilidade, por que não?

A partir do momento que se pisa fora de casa, qualquer coisa pode acontecer. Tive um chefe, na Folha, que morava no bairro do Jabaquara, em São Paulo. Ele saiu de manhã pra comprar cigarros e, três dias mais tarde, a mulher recebeu um postal enviado de Munique. Ele contou depois: estava na padaria comprando os cigarros, quando encontrou um amigo que ia pro aeroporto, decidiu acompanha-lo e, resumindo a ópera, Munique era muito legal.

Gosto de ver o mar pela janela. Aprecio também ver as pessoas indo e vindo em suas rotinas. É divertido montar um Globo Repórter em torno delas: como vivem? O que fazem? Do que se alimentam? O melhor é sempre pegar um desvio na expectativa e inverter o que a pessoa parece ser. Porque, no fim, a gente sempre se surpreende.

Mas vocês já perceberam que estou enrolando, né? Tento a todo custo ignorar que daqui a duas semanas estaremos diante de uma urna eletrônica. Ela será a janela que vamos todos abrir para recolocar o país nos trilhos. Até mesmo os que votarem pela reeleição do vocês-sabem-quem estarão levantando a persiana para o que eles julgam ser o melhor.

Mas é a tal eterna discussão no Clube dos Ansiosos. O Natal vai chegar, vamos todos brindar o Ano Novo, quem sabe, ensaiar um bloquinho de carnaval – e nada desses quinze dias passarem…

Autor:

Dramaturgo, autor-roteirista de novelas, cronista, jornalista. Paulistano.

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